quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Eu li - A insustentável leveza do ser

Nome original: Nesnesitelná Lekkost Bytí
Autor: Milan Kundera
Número de páginas: 309
Ano de publicação: 1984
Editora: Companhia de Bolso

Estou há algum tempo em uma vibe de ler alguns clássicos - nacionais ou gringos -, já falei aqui no blog sobre O apanhador no campo de centeio  e achei bem marromeno. Também tentei ler O Grande Gastby, mas achei tão cansativo que não cheguei na metade, vou me contentar com ver o filme com o Leo mesmo.
Com A insustentável leveza do ser a história foi outra. Mesmo com um certo "medinho" do livro, desde a primeira página me empolguei com ele. A história se passa principalmente em Praga e narra a invasão russa do ponto de vista dos quatro personagens principais: Tereza, Tomás, Sabina e Franz. Eu ainda acrescentaria mais um personagem fundamental: a cadela Karenin 
Mas antes de tudo, acho que esse é um livro sobre o amor, mesmo que em muitos momentos fale de decepções amorosas. Além disso, Kundera usa os personagens para falar de questionamentos que temos em nossas vidas como decepção profissional, falta de confiança em si próprio, religião, sexo... e do meu ponto de vista, principalmente, sobre amor.
É um livro de filosofia e também uma narrativa - não é a toa que virou um filme. A história não é linear, o que ajuda o autor a colocar suas indagações, como em um momento em que explica como criou um dos personagens. Isso tudo sem perder o "fio da meada" da narrativa.
É um livro fácil e difícil de ler ao mesmo tempo. Com relação a narrativa, achei que é uma leitura fácil e fluída. Já quanto às temáticas, pode ser um livro complicado, não por trazer questionamentos muito complexos, mas por causar reflexões um tanto quanto incômodas. Pelo menos foi isso que eu senti em diversos momentos. 
Se foi um livro life changing eu não sei, só sei que já entrou para os melhores livros que já li na vida - que é bem eclética, tem Harry Potter, Dom Casmurro, Um dia... - por ser daqueles que ficou na minha cabeça, me fez refletir durante a leitura e por ter me deixado com vontade de ler novamente no futuro.
Em vários livros, eu tenho algumas passagens preferidas, nesse, diversas frases me marcaram ao longo da leitura, mas talvez uma seja mais emblemática:
"Seu drama não era de peso, mas de leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser.”

domingo, 22 de setembro de 2013

Rotina

Tem quem diga que a rotina mata, mas é impossível escapar dela (ou da morte). Marina sabia muito bem
disso, só não se resignava e nem deixava que essa fosse sua causa mortis.
Para piorar a rotina de Marina, o seu meio de transporte diário para o trabalho era o metrô. Para ela, sortudos eram os passageiros de ônibus que podiam aproveitar uma paisagem durante a viagem. Mesmo que fosse a da Avenida Brasil.
Numa tentativa de tornar a rotina mais agradável, Marina tinha o hábito de olhá-la como se, a cada esquina, fosse encontrar algo inédito. Como acontece quando estamos em uma cidade que não conhecemos e cada esquina, prédio ou pessoa é uma deliciosa novidade.
No metrô não era possível colocar esse hábito em prática, afinal, é difícil imaginar novidades no escuro dos túneis. Mas é sabedoria popular que há sempre uma luz no fim do túnel. No caso de Marina, a luz estava no alto da escada.
Todas as vezes que subia os degraus para deixar o fundo da Terra, ainda sem conseguir ver nada além do céu, ela imaginava (se enganando deliberadamente) o que veria ao chegar no último degrau. Qual seria a surpresa? Como seriam os prédios? Haveriam árvores? Pombos comendo pipocas jogadas por um velho solitário?
Só que Marina sempre encontrava a mesma cena rotineira, dia após dia. Mas isso não a entristecia por completo, essa autoenganação valia a pena. Aqueles poucos segundos de expectativa antes da triste decepção eram deliciosos. Uma espécie de vício alimentado todos os dias pela expectativa empolgante seguida dos resultado decepcionante, cotidianamente, como um fumante que sabe dos males do cigarro, mas ainda não é capaz de largá-lo. Ela era viciada nesse ciclo de expectativa e decepção constantes.
Mas um dia a decepção não veio. Distraída pela rotina, Marina desceu na estação errada e finalmente encontrou a tão esperada surpresa a esperando no último degrau. Só não se sabe se a novidade foi melhor que a rotina.